O nascimento de uma cultura BDSM: o período do pós-guerra

Vimos como ao longo dos séculos têm estendido gradualmente práticas sexuais de alguma forma relacionadas com a cultura BDSM, mas apenas durante o século XIX, pode-se argumentar que o termo sadomasoquismo com todas suas acepções teve uma canonização precisa.

BDSM entendido no sentido moderno pode ser atribuído às primeiras comunidades gay e à luta por o reconhecimento dos seus direitos, uma luta que foi a base para a formação da concepção moderna de sadomasoquismo.

No artigo "velha guarda, Nova Guarda?", Lorde Saber explica detalhadamente como tudo começou. Os combatentes que retornam da II Guerra Mundial, tendo descoberto e experimentado suas latências homossexuais neste longo período de estagnação e prolongada castidade, em condições de forte estresse emocional, de volta da guerra, não conseguiram renunciar a este novo aspecto que surgiu dominante em suas vidas e na sua sexualidade. Eles começaram a dar vida à comunidade fechadas, para se destacar muito da América superconservadora dos anos 50.

Entre as mais emblemáticas, recordamos as famosas gangues de motociclistas, que formaram na década seguinte as primeiras comunidades chamadas "Leather" ("couro" em inglês), referindo-se à roupa descaradamente fetiche, uma marca registrada do grupo. Em retrospectiva, uma tendência adotada em forma mais leve por vários códigos de vestuário BDSM.

Se este foi o período da velha guarda, que se escondia dos olhos das pessoas "normais" para não provocar escândalo e ser colocada para o pelourinho público, permanecendo, na verdade, uma espécie de clube exclusivo e limitado, a situação estava prestes a evoluir rapidamente no final dos anos 60.

Anos decisivos para o processo da mudança do costume americano e indiretamente europeu; estavam se tornando mais e mais comuns a consciência e o desejo de sair do armário e externar sua sexualidade de uma forma livre, bases indispensáveis para a criação dos primeiros pontos de encontro e o estabelecimento de uma cultura comum a este respeito.

Embora as primeiras abordagens não eram absolutamente simples, como lembra Jay Wiseman em seu livro An Essay About "The Old Days": "Naquele tempo havia a gente conversava sim de liberação sexual, mas muito mais a gente ocupava o tempo tentando tranquilizar os recém-chegados que não estavam doentes ou loucos. Este era o principal tópico".